Escrevo um poema
e me traduzo
em ponto, vírgula, interrogação:
faço da vida a minha pontuação.
E faço protopoesia neoconcreta,
digo tudo dizendo nada,
escrevo errado pra dizer o certo,
feito um Patativa no meio do deserto.
E quem foi que disse que poeta não xinga?
Poeta é gente - e mando à merda quem disser que não.
- Abaixo os puristas, disse Bandeira.
E eu repito, à minha maneira.
Quisera eu ser como o poeta Carlos,
que foi gauche na vida e,
escondido atrás dos óculos e do bigode,
sentiu o que só o mundo inteiro pode.
E a beleza ímpar nas rimas dum Bocage,
poeta das meretrizes?
Cantar amores de puta e marinheiro
e viver vida folgada e milagrosa: comer, beber, foder sem ter dinheiro.
Traço barroco em poesia moderna,
letras de sangue e ácido clorídrico:
quero ser Gregório de Mattos Guerra
e cantar o inferno aqui na terra.
Definir-se é questão de vida ou morte,
e me defino por Gullar:
traduzo uma parte na outra parte
e assim faço a minha arte.
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