segunda-feira, 25 de junho de 2012

Pesadelo

Essa noite sonhei que acordava,
manhãzinha cedo, e dava de cara
com um Ronald McDonald
sentado no sofá da sala,
dono da casa inteira.

Foi mesmo apenas um pesadelo?

Quadrilha

céu de bandeirolas dançantes
saias rodadas e chapéus de palha

amores que a fogueira entalha
flores em corações vibrantes

paixões de pano quadriculado
brilho de prata nos olhos das moças

chuva chovendo e erguendo poças
a contradança tecendo o bordado

prenúncio da troca de pares
olhares cruzando a pista

amores se dando à primeira vista
perfume de rosa espalhado nos ares

casamento celebrado por padre
laços e cruzes do matrimônio

prece de noiva pra santo antônio
o riso na cara da santa madre

calor de encontro é dor de despedida
quadrilha em festa de são joão

poesia junina escorrendo da mão
visão que cicatriza ferida

terça-feira, 19 de junho de 2012

Definição

Escrevo um poema
e me traduzo
em ponto, vírgula, interrogação:
faço da vida a minha pontuação.

E faço protopoesia neoconcreta,
digo tudo dizendo nada,
escrevo errado pra dizer o certo,
feito um Patativa no meio do deserto.

E quem foi que disse que poeta não xinga?
Poeta é gente - e mando à merda quem disser que não.
- Abaixo os puristas, disse Bandeira.
E eu repito, à minha maneira.

Quisera eu ser como o poeta Carlos,
que foi gauche na vida e,
escondido atrás dos óculos e do bigode,
sentiu o que só o mundo inteiro pode.

E a beleza ímpar nas rimas dum Bocage,
poeta das meretrizes?
Cantar amores de puta e marinheiro
e viver vida folgada e milagrosa: comer, beber, foder sem ter dinheiro.

Traço barroco em poesia moderna,
letras de sangue e ácido clorídrico:
quero ser Gregório de Mattos Guerra
e cantar o inferno aqui na terra.

Definir-se é questão de vida ou morte,
e me defino por Gullar:
traduzo uma parte na outra parte
e assim faço a minha arte.

Quem é o louco?

Fui motivo de piada por dizer que achava justa
a causa dos trabalhadores sem-terra.

Vi burgueses gordalhudos às gargalhadas:
leitões sacudindo frenéticos
dentro de seus ternos italianos.

- Ser amigo de sem-terra dá futuro a ninguém, rapaz.
Prefiro ser amigo de fazendeiro,
disse um deles, babando feito cão raivoso.

Tenho dificuldades reais de me relacionar
com pessoas da classe social a que pertenço.
E tenho orgulho dessas minhas dificuldades.

Sou - e faço questão de ser - um peixe
fora desse aquário imundo
de egoísmo e ignorância.

Não quero identificação ideológica
com um bando de porcos engravatados
que só olham pra seus umbigos cheios de merda.

Não ligo de ser tachado de louco
por seres ignóbeis e pequenos.
Teria, sim, motivo de preocupação,
caso minhas ideias encontrassem porto seguro
em cabeças idiotas e mesquinhas como aquelas.

Sou louco por não ser racista,
louco por não ser machista,
louco por não ser homofóbico,
louco por não ser católico,
louco por não ser conservador.

Definitivamente, sou louco.
E se isso é que é ser louco,
quero, então, ser o louco dos loucos.

Explicação talvez necessária

Não quero ser incompreendido.
(E quem quer?)

Mas também "não faço força para ser entendido"
pois "quem faz sentido é soldado."
(Palavras gostosas do poeta Mario Quintana.)

O caso é que tive medo
de ver mal interpretado
o último poema que escrevi.

Por isso resolvi fazer este poema-nota de esclarecimentos.

Caráter é poema pra ser negado,
que não traduz literalmente a opinião do poeta,
mas constata a tristeza
de um padrão socialmente estabelecido.

Caráter é poema pra cuspir em cima, ter nojo,
é página pra rasgar na História.

Poeta menor é assim mesmo:
explica um poema no outro,
vira o fazer poético do avesso e de ponta-cabeça,
faz não-poesia.

Poeta menor sou eu:
funcionário público a digitar nota de esclarecimentos.

Caráter

Homem, branco, classe média, heterossexual.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Poema confuso sobre alguma coisa

O céu desfez-se em água
e despencou sobre a terra,
lavando o asfalto
das ruas pavimentadas de minh'alma.

Deitado na rede
- covarde e preguiçoso -
traguei o gole d'água que restava
e pus o copo vazio no chão.

O choque suave entre vidro e ardósia
produziu estrondo ensurdecedor,
semelhante ao produzido
por corrente elétrica cruzando os ares.

Foi assim que deu-se a poesia;
foi assim que cometi este poema.

A perda

Foi no saguão principal do hospital
que abriu-se em meu peito
um buraco fundo e escuro.

E foi rombo aberto a faca ou bala
ou qualquer outra coisa que o valha.

As palavras sendo disparadas
pela boca impiedosa,
cheia de dentes perfurocortantes como navalhas.

Meu coração sendo feito em pedaços,
mordido pela boca diabólica.

A perda é algo que acontece aos poucos
e torna até o mais santo dos homens
no mais inconsequente dos loucos.

O cair da ficha é também processo lento:
eterna oscilação entre o notar-se e o não notar-se.

Viver é escolher caminhos,
lançar-se à própria sorte,
e naquele dia, a vida escolheu o caminho que vai dar na morte.

Modernidades

:)
:(

sábado, 2 de junho de 2012

C0mpr33n540

Pr4 b0m 3nt3nd3d0r 1/2 p4l4vr4 b45t4.

0 r4t0 r03u 4 r0up4 d0 r31 d3 R0m4,
3 3m t3rr4 d3 c3g0 qu3m t3m 1 0lh0 3 r31.

Pr4 m4u 3nt3nd3d0r, n3m p4l4vr4 3 m314 4d14nt4.
0u 53r14 m3lh0r d123r 1,5 p4l4vr4?